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Blog da Karina Oliani

Viagens e imagens: um exercício de autoconhecimento e culturas

Karina Oliani

22/10/2019 04h00

Sempre viajei muito sozinha.

Gosto da simples contemplação das paisagens que me atravessam, da introspecção que os diálogos silenciosos "de mim comigo mesma" provocam. É uma forma de meditação. Um mergulho profundo em verdades e medos, que muitas vezes estão muito bem escondidos lá dentro da gente e quando viajamos – ficando longe de família, amigos e pequenos confortos materiais – eles afloram. Mas é também uma chance de crescimento, de rever conceitos e ressignificar o olhar dos nossos hábitos e nossa cultura, a partir de outra cultura.

Viajar nos esculpe.

Vai tirando, camada após camada, os excessos. Nos deixando crus e alinhados novamente com nossa verdadeira essência.

O lado ruim de se viajar só é não ter alguém ao lado pra compartilhar o momento. Pra sentir com você o calor do vulcão no rosto, o frio na barriga do abismo ou sentir a energia pura de uma benção de um Lama em algum monastério tibetano. E por mais que você volte com fotos e vídeos maravilhosos eles nunca fazem jus ao que você experimentou. Os registros audiovisuais têm uma limitação muitas vezes frustrante. Mas ainda assim são a melhor maneira de se documentar essas experiências: se os olhos são a janela da alma, as fotos são o registro da vista que nossa existência tem.

Tendo visitado mais de 100 países, por inúmeras vezes me peguei em lugares absolutamente surpreendentes e que me faziam pensar: "Todo mundo, ao menos uma vez na vida, precisava ver isso daqui". Muitos desses lugares, cantos remotos do planeta de difícil acesso e logística complicada.

Lugares em que poucos turistas conseguem chegar. Locais de natureza intocada, de cultura rica e de beleza ímpar. O mundo, apesar de globalizado e com sinal 4G em quase todo canto, ainda esconde joias escondidas.

E foi pensando justamente em compartilhar experiências únicas nesses lugares excepcionais que comecei a organizar pequenos grupos para viagens que chamo de "épicas". Junto com o amigo fotógrafo – e também sócio – Andrei Polessi, começamos a montar roteiros de expedições fotográficas pelo mundo: visitamos monges em monastérios isolados nos Himalaias, comunidades sherpas no Nepal, tribos no interior da Etiópia, vilas de agricultores no vale de Zanskar – extremo norte da Índia.

Nosso desafio é facilitar o acesso a lugares escondidos. Muito mais que levar as pessoas para fotografar paisagens magníficas e culturas de beleza única, oferecemos uma experiência de imersão antropológica. Queremos mostrar a verdade local, ao invés de lojinhas de souvenires ou paisagens emolduradas de dentro de um ônibus com ar-condicionado.

Isso muitas vezes envolve ter que sair da zona de conforto. Envolve dormir em barracas aos pés de um glaciar durante uma nevasca, comer sentado no chão aos pés de um fogão à lenha de uma casa sherpa ou ainda abrir mão de banho por alguns dias.

Muitas vezes para se ver o arco-íris é preciso encarar a chuva.

A recompensa disso tudo vem em imagens espetaculares, mas principalmente em encontros e momentos inesquecíveis. Uma experiência real e para toda a vida. A fotografia acaba sendo só uma desculpa que usamos para estar ali, vivendo aquilo.

Foi assim agora no Nepal com nosso último grupo.

Por quase duas semanas, percorremos caminhos fora do "mainstream" na região do Annapurna. Na companhia de meu amigo e "anjo da guarda" das escaladas, Pemba Sherpa – juntamente com seu time de sherpas da comunidade de Patle – pudemos experimentar a hospitalidade e a cultura local como poucos.

Fizemos imagens absolutamente maravilhosas. Registros primorosos de trekkings espetaculares por entre as montanhas mais altas do mundo (um dia caminhamos até 4.200 m de altitude), visitas a vilarejos e seus moradores e monastérios budistas milenares. Nos aquecemos em lodges simples tomando o famoso ginger-lemon-honey tea, nos jogamos no vazio de parapente em Pokhara e após um voo de helicóptero épico por entre montanhas de 8.000 m de altitude, pousamos no Tilicho Lake, a 5.100 m, para uma sessão de fotos.

Namaste.

Sobre a Autora

Karina Oliani é médica, especialista em sobrevivência e fã de treinamento, nutrição e esportes de aventura. Já escalou o Everest duas vezes e foi a primeira mulher sul-americana a subir a montanha mais alto do mundo por suas duas faces. Também é bicampeã brasileira de wakeboard e snowboard, além de ter encarado aventuras como atravessar um vulcão em atividade, caçar tornados e a Aurora Boreal. Entende de treinamento físico e de nutrição esportiva.

Sobre o Blog

Aqui, Karina Oliani vai compartilhar todos os segredos de treino e alimentação para as aventuras que você quer viver: escalar, correr, nadar, voar. Além disso, com o passaporte recheado de carimbos, será uma ótima guia de viagens para destinos incríveis.

Karina Oliani